Influência do ambiente no potencial produtivo e tecnológico de linhas de trigo mole (Triticum aestivum L.)

Abstract

Em ambientes nos quais as plantas estão sujeitas a stresses de várias ordens, como o ambiente mediterrânico que caracteriza o Sul de Portugal, onde as temperaturas elevadas (stress térmico) e as precipitações escassas e erráticas (stress hídrico) constituem limitações à produção do trigo no entanto, o melhoramento de plantas serve-se cada vez mais do saber no campo da ecofisiologia, ou seja do conhecimento das respostas fisiológicas da cultura no ambiente específico em que se desenvolve. O principal objectivo deste trabalho visou a identificação da variabilidade genética em duas situações culturais contrastantes (sequeiro e regadio) de um grupo de 25 genótipos de 1ª e 2ª época (designação atribuída devido ao habito de desenvolvimento do germoplasma) de trigo mole relativamente a dinâmica do enchimento do grão e influência da biomassa à ântese e maturação na produção final. Usando uma metodologia proposta por Blum et al., (1983) para simular o efeito da secura através da pulverização da planta com o dessecante químico, estudou-se a contribuição dos assimilados de reserva para o enchimento do grão. Os resultados indicam relativamente às componentes da produção, uma forte relação do número de grãos por m2 com a produção final, tanto no sequeiro como no regadio. Os materiais de 1ª época com ciclo vegetativo mais longo, exigem sementeiras mais cedo de modo a cumprirem o seu ciclo dentro do período mais favorável. Estes materiais quando semeados na data adequada aos genótipos de 2a época alongam bastante o ciclo, sofrendo com isso as consequências da falta de água e temperaturas elevadas no final do ciclo. Portanto, o número de grãos por unidade de área, revela-se com a componente do rendimento mais importante na definição da produção final nas condições de clima mediterrânico. O melhoramento actual confronta-se também com a dificuldade de avaliar a qualidade tecnológica do trigo. Esta qualidade depende, por um lado da composição do grão e por outro, da utilização final de cada cultura, a qual está relacionada com a cultura alimentar de cada País. Do ponto de vista tecnológico neste trabalho foi também detectada alguma influência da situação cultural, mas a principal conclusão advém do facto de ser possível identificar variabilidade genética que permita progresso, sobretudo nos materiais de 1a época.