A necessidade de parar : reconexão à ancestralidade, à comunidade e ao espaço

Abstract

Sankofa é uma performance que articula de forma contemporânea, com recurso ao têxtil, ao pensamento artístico e à instalação, questões inerentes ao corpo enquanto veículo para libertação, e ao santori, um estado de compreensão, presença total e simultaneamente ausência da mente. Este projeto tem como intenção fundamental criar um momento de reflexão coletivo, denominado através de um elemento adinkra, escrita dos povos Akan, na África Ocidental, que simboliza um retorno consciente às origens, pois nunca é tarde para voltar, recolher, aprender e reconectar. Através de intervenções no espaço, a instalação é composta por várias estruturas em ferro que recorrem ao têxtil, e às linguagens audiovisuais, criando um ambiente imersivo que pretende convocar um amplo espetro de emoções e de sublinhar a necessidade de vincular o ser humano à sua ancestralidade, à comunidade e ao espaço. Com o objetivo de aprofundar e materializar algumas reflexões, assumo esta instalação enquanto possibilidade de habitação, local que protege, que envolve, que acolhe e onde é realizado um ritual para a comunidade. Como em qualquer ritual, um determinado espaço é preparado para que, recorrendo a determinados elementos, uma intenção seja evocada. Esta habitação foi desenvolvida através de um financiamento e doações de material, que permitem uma diversidade de presenças na reapropriação/ construção do espaço. Todos os processos de reutilização e manipulação de materiais, não nobres e não convencionais, para a criação de uma instalação artística, aludem ao renascimento de um todo, composto por elementos individuais. A utilização de cabos elétricos, condutores de energia, permitem a materialização de reconexões não visíveis nem palpáveis entre todos os seres presentes no espaço. As cordas e redes de pesca são utensílios têxteis que possibilitam prender e capturar não só o corpo físico, mas também a atenção do ser que por elas se deixa envolver. A criação de tecituras e utilização de enrolamentos remetem para a interligação entre elementos naturais e os restantes corpos físicos, que transmitem, de certa forma, uma carga emocional e sensorial ao espectador, através da sua estética, tato e cheiros. A preferência pela utilização de instrumentos indígenas xamânicos permite que a música funcione como uma forma de terapia. Com estes instrumentos, o espectador é envolvido e convidado a entrar num estado de transe progressivo, em que a sua consciência fica mais perto de se expandir à medida que as variações de elementos sonoros surgem. Assim sendo, o público torna-se parte intrínseca da obra. Esta performance instalação convida a parar, e incita a transmutação do ego individualista através da criação de um momento de experiência coletivo, em que o espectador é envolvido numa tentativa de enlace entre si e o meio envolvente.